A multinacional norte-americana, Apple, tem travado uma batalha judicial com a Polícia Federal daquele país, o FBI. O entrave dá-se em torno da polêmica envolvendo o caso de atentado terrorista na California, quando Syed Rizwan Farook e a mulher mataram 14 pessoas e feriram 22. A polícia americana exige o acesso aos dispositivos do terrorista no intuito de obter informações que possam ajudar nas investigações sobre o caso e a evitar novos atentados.
A Apple afirma que para liberar esses dados seria necessário a criação de um novo sistema operacional, uma espécie de “porta” que permitiria acesso a qualquer aparelho do mundo. Para a empresa de tecnologia, a criação desse mecanismo permitiria um uso desproporcional e o acesso a informações privadas poderia ser usado “tanto para o bem quanto para o mal”. Outras importantes empresas do setor – Google, Microsoft e Facebook – manifestaram apoio a Apple. Recentemente, no Brasil, o Facebook enfrentou problemas na justiça análogos ao embate nos Estados Unidos, tendo inclusive sido preso um de seus executivos.
Acontece que toda essa celeuma gera um debate ainda mais profundo entre a segurança e a privacidade. Enquanto nos deparamos com a potencialidade de armazenamento de dados pessoais por parte dessas empresas de tecnologia, verificamos a fragilidade das nossas relações privadas. Estamos cercados por dispositivos tecnológicos em nosso cotidiano e essa prisão parece não ser segura o suficiente para preservar a nossa intimidade.
Por outro lado, a discussão envolve uma questão de segurança pública, nacional e do próprio Estado. O fato de tais dados permitirem a mais célere investigação dos casos de terrorismo e também por terem o potencial de evitar novos ataques pode direcionar a opinião pública para o ligeiro acatamento dessa proposta. Segundo uma pesquisa reaizada pelo Pew Research Center com 1.002 americanos adultos, 51% deles afirmaram concordar com o FBI e que a Apple deveria quebrar os sigilos desses dados por conta das investigações.
Para Nelson Rosenvald esse debate traz importantes discussões, haja vista que:
Eis aí uma pequena amostra do acirrado debate entre a preocupação com a segurança pública e a indevida intrusão em nossas vidas privadas. A controvérsia se intensifica na medida em que essa tensão entre a sociedade e o Estado é mediatizada por grandes corporações que controlam bancos de dados de inestimável valor existencial, possuindo os seus próprios códigos de ética para deliberar em que medida esses “ativos” podem ser precificados no mercado. É ultrajante, mas, em toda a sua singularidade e complexidade, o ser humano é reduzido a um perfil na web, um conjunto de algoritmos imerso no mundo virtual. De fato, quem será que devemos temer: O Estado ou Zuckerberg?
Recentemente, tentando pacificar a questão, a Empresa que comanda o WhatsApp atualizou a versão do aplicativo e a partir de agora as mensagens enviadas pela ferramenta estão protegidas com “criptografias de ponta-a-ponta”. Dessa forma a gigante da tecnologia visa assegurar a privacidade dos usuários, já que somente os usuários (emissor e receptor) possam ter acesso as mensagens trocadas pelo aplicativo, garantindo que nem mesmo a própria empresa teria como ler esses dados.
A questão é complexa e, obviamente, que uma ou outra alternativa que se possa tomar levará a mesma conclusão: nossa intimidade e a inviolabilidade da vida privada já não são extremamente seguras nos tempos modernos. As facilidades e inovações trazidas pela tecnologia também fragilizam a nossa privacidade. O fantasma está cada vez mais presente e agora temos que dormir com uma permanente indagação: será que estamos o tempo todo sendo “espionados”?
REFERÊNCIAS:
ROSENVALD, Nelson. A Apple, o Facebook e a vida privada. Disponível em: http: <//www.nelsonrosenvald.info/#!A-Apple-o-Facebook-e-a-vida-privada/c21xn/56d5fa340cf249e9dfce0f9f> Acesso 03 mar., 2016.
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