Connect with us

Administrativo

Como escolher 11 homens para proteger a Constituição Federal

Redação Direito Diário

Publicado

em


Atualizado pela última vez em

 por Ingrid Carvalho

Se você tivesse o condão de estabelecer como os chamados guardiões da Constituição seriam escolhidos, qual você escolheria: manteria o sistema atual ou estabeleceria eleições para o cargo? Este assunto é calorosamente debatido tanto no âmbito político como no âmbito acadêmico e ambos os métodos de escolha possuem aspectos interessantes dignos de análise. Contudo, antes de entrarmos no mérito em si, abordaremos a maneira como os ministros são escolhidos hoje para depois seguirmos para as considerações sobre as duas maneiras de selecionar juízes.

Para se tornar ministro do STF, o jurista deve passar por essencialmente três fases: preencher requisitos, ser escolhido pelo presidente e ser aprovado por maioria absoluta do Senado Federal:

  1. Consiste a primeira fase nos requisitos presentes na Constituição Federal: deve o candidato ser brasileiro nato (art. 12, §3°, IV da CF/1988), ter mais de trinta e cinco e menos de sessenta anos (art. 101 caput da CF/1988) e ser de notável saber jurídico e reputação ilibada (ainda no art. 101 caput da CF/1988).
  2. A segunda fase consiste na escolha presidencial, a qual não está ligada a qualquer lista, por mais que muitas sejam entregues com sugestões, como a lista entregue pelo Movimento Negro a Dilma Rousseff para indicar possíveis substitutos ao ex-ministro Joaquim Barbosa.

III. A terceira fase consiste na aprovação do Senado Federal por maioria qualificada, ou seja, por três quintos dos senadores.

Existem, todavia, outras propostas que têm como objetivo democratizar a escolha dos magistrados:

Pois bem, comecemos pelos que defendem que os ministros devem ser eleitos.

A proposta daqueles que defendem que os juízes devem ser eleitos foca-se em dois pontos principais: o fato de não haver qualquer limite ao mandato dos ministros do tribunal mais importante do Brasil (a não ser a aposentadoria compulsória) causa inflexibilidade nos entendimentos e a morosidade na evolução do Direito e; eleições para ministro do STF tornariam o Judiciário mais democrático.

Trabalhemos com mais detalhes na primeira proposição. Em brilhante artigo, o Prof. Sérgio Cavalieri diz que por vezes o Direito é injusto por não acompanhar as transformações sociais e que a falta de disposição política desempenha papel importante nesse impedimento. Dessa forma, segundo aqueles que defendem as eleições para o STF, tal realidade poderia mudar caso houvesse mandato para os juízes e que estes fossem eleitos, por meio de eleição direta, a população poderia escolher aquele ministro com que mais compactua, aquele que acredita defender os mesmos ideais que os seus, coisa que é impossível com a nomeação direta do presidente.

Dessa maneira, o Tribunal Superior operaria conforme os interesses da sociedade (ou pelo menos de sua maioria) de modo que os entendimentos judiciais acompanhariam as transformações sociais e, com a existência de um mandato, haveria mais chances de participação da esfera civil no judiciário.

Estas ideias têm tanto respaldo que em parte já compõem o texto da proposta de emenda constitucional 378/14 que busca instituir um mandato de dez anos para ministros do STF, sendo vedada ainda a recondução e exercício de novo mandato.

Segundo o Deputado Zé Geraldo (PT-PA), que propôs a PEC, vários países já adotam tal regime, como Portugal que possui limite de nove anos para o mandado de seus juízes supremos, Alemanha, cujo mandado é restrito a 12 anos e Chile e Colômbia, que têm mandato de oito anos. A mesma PEC ainda busca modificar os critérios de escolha dos ministros, não pela eleição direta, mas distribuindo as escolhas entre o executivo e o legislativo.

O segundo grande argumento utilizado por defensores da mudança é que eleições tornariam o poder judiciário como um todo mais democrático. Para compreender este ponto, é necessário analisarmos a divisão de poderes.

Segundo a Constituição Federal, os Poderes da União são Legislativo, Executivo e Judiciário e devem ser independentes e harmônicos entre si. Diversas disposições no ordenamento brasileiro buscam manter essa delimitação como a vedação a tributação entre poderes, por exemplo. Contudo, o que observamos quando analisamos o método de escolha dos ministros do poder Judiciário é que ele perpassa pelo Executivo e pelo Legislativo, porém, o Judiciário não é nem mesmo chamado a se manifestar.

Desta ótica, constamos que os outros dois poderes passam por eleições democráticas abertas à sociedade, restando apenas o questionamento de porquê o Judiciário é o único poder que não tem eleição alguma, nem entre os cargos de direção dos tribunais superiores (tema da PEC 167).

Ainda nesse sentido, temos que a pessoa que irá ocupar o posto mais alto do judiciário o vai simplesmente por decisão do chefe do executivo. De início, tal constatação pode não parecer tão grave, contudo, colocada sob a perspectiva de que ao final de 2016, dez dos onze ministros do STF terão sido escolhidos por presidentes de um só partido, nos faz pelo menos questionar se tal forma de seleção é a mais justa e imparcial.

Por outro lado, há quem defenda a forma atual de seleção dos ministros ou, pelo menos, a considera preferível em relação às eleições diretas, e abordaremos dois dos argumentos mais fortes desta “bancada”: segundo apoiadores do sistema atual, o cargo vitalício é importante juridicamente falando e; o processo eleitoral, no sentido de trajetória eleitoral (campanha, angariamento de fundos, filiação partidária) seria danoso ao exercício imparcial da magistratura.

Comecemos então pelo primeiro ponto. Aprendemos em Direito que os juízes devem ser imparciais diante de um processo sob pena de nulidade deste e que os juízes em geral devem ter liberdade de convicção, ou de convencimento. De maneira didática, devem os juízes ser capazes de proferir decisões sem indevidamente favorecer uma das partes.

Com esta noção em mente, colocamos o seguinte questionamento: de que maneira posso garantir que um juiz aja de maneira mais justa sem se sentir pressionado com demissão ou recondução?

Muitos acreditam que pela garantia da continuidade do cargo é possível assegurar que o magistrado julgará de maneira convicta e livre de impedimentos.

Apenas a título de exemplo, podemos citar uma situação corriqueira em debates universitários: o porte de drogas para consumo próprio. A despeito do debate ainda não ter chegado a um consenso, é certo que se decidido de maneira rápida sem os devidos cuidados, digamos, por um ministro eleito por conta de uma proposta de que advogaria em favor da liberalização da maconha, os impactos no país não serão os mais desejados. Em síntese, o STF trata de assuntos de peso os quais devem ser tratados, como colocamos acima, com imparcialidade e livre convicção, afinal juízes não são representantes do povo e sim do Direito.

Outro ponto que precisa ser levado em consideração é o impacto que uma “corrida eleitoral” causaria no pleno exercício da magistratura. São feitas as seguintes especulações: como se dará a campanha? Será esta financiada pelo governo ou por patrimônios pessoais? Poderão ser feitas doações a estes candidatos a ministro? Os discursos eleitorais serão baseados na demonstração de conhecimentos jurídicos, grandes decisões ou mesmo em propostas de entendimentos?

Certamente, não nos parece lógico ou mesmo desejável que um juiz passe por esse processo, tendo em vista a própria natureza do judiciário, como colocamos acima, de modo que, mesmo que o sistema atual seja questionável, ele seria preferível a eleições diretas.

Assim sendo, o debate continua. Pessoalmente, não sou convicta de nenhuma dessas posições, porém reconheço a relevância do assunto, que hoje, com julgamentos tão relevantes para o país se aproximando, está mais relevante do que nunca.

Continuar lendo

Administrativo

Peculato: você sabe o que é isso?

Redação Direito Diário

Publicado

em

peculato

Atualmente, é comum a mídia fazer referência ao crime de peculato, tendo em vista, infelizmente, os frequentes casos de desvio de dinheiro no país. Dessa forma, torna-se necessário entender melhor esse tipo penal, a fim de que não existam dúvidas sobre o que é incriminado por ele.

Inicialmente, cabe explicar o significado da palavra peculato: ela encontra sua origem no Direito Romano, época em que a subtração de bens pertencentes ao Estado era chamada de peculatus ou depeculatus.

Como anteriormente ainda não havia a moeda como símbolo de comercialização, o patrimônio estatal era composto, assim, por bois e carneiros (pecus), representando a riqueza pública por excelência.

O tipo em epígrafe localiza-se dentro do Título XI – Dos crimes contra a Administração Pública e do Capítulo I – Dos crimes praticados por funcionário público contra a Administração em geral.

Assim, o sujeito ativo do crime é próprio, só podendo ser praticado por funcionário público, porém a participação ou coautoria de outro agente o qual não seja funcionário, mas que conheça a condição do autor possibilita a comunicação da elementar do crime.

Destacam-se, nessa oportunidade, os tipos dos artigos 312 e 313 do Código Penal:

Peculato

Art. 312 – Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.

1º – Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

Peculato culposo

2º – Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:

Pena – detenção, de três meses a um ano.

3º – No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

Peculato mediante erro de outrem

Art. 313 – Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

O artigo 312 em seu caput descreve, primeiramente, o peculato na modalidade apropriação o qual se relaciona com o tipo do artigo 168 do Código Penal (apropriação indébita). O agente passa a se comportar como proprietário do dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, que antes era apenas possuidor. Ressalta-se que esta posse deve estar relacionada ao cargo do agente, faz, assim, uso do cargo para obter a posse.

Ainda no caput é previsto o peculato-desvio. O sujeito desse crime confere à coisa destinação diversa da inicialmente prevista, tendo como finalidade algum proveito próprio ou de terceiro. Essa modalidade de peculato é o exemplo clássico, sendo o caso, por exemplo, de dar destinação diversa as verbas públicas, beneficiando-se de alguma forma.

Já o parágrafo primeiro é a modalidade do crime em questão a qual a doutrina nomeia como peculato-furto. O agente não tem a posse do bem, mas a sua posição de funcionário público lhe proporciona uma situação mais favorável para a subtração dela.

A segunda parte da modalidade, peculato-furto, exige o concurso necessário, haja vista que a atuação do funcionário restringe-se à concorrência dolosa para a subtração efetuada por terceira pessoa.

Há também o peculato-culposo, o qual é uma exceção a teoria monista, uma vez que estão, necessariamente, presente pelo menos dois agentes: o funcionário que responde pela modalidade culposa e a pessoa que está cometendo delito dolosamente.

Neste caso, o funcionário infringe o dever de cuidado objetivo, inerente aos crimes culposos, deixando de vigiar, como deveria, os bens da Administração que estão sob sua tutela.

Ainda sobre o tema, cabe destacar o artigo 313 do Código Penal mais conhecido como peculato-estelionato. O funcionário público apropria-se, indevidamente, de dinheiro ou qualquer outra utilidade, prevalecendo-se de sua função, mediante o aproveitamento ou manutenção do erro de outrem. O erro é a falsa percepção da realidade pela vítima.

O peculato segundo o entendimento dos tribunais superiores

Nessa toada, o Superior Tribunal de Justiça não entende como possível a aplicação do princípio da insignificância nos casos de crimes contra a Administração Pública, incluindo-se o peculato, havendo, inclusive, entendimento sumulado sobre o assunto.

O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. (SÚMULA 599, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2017, DJe 27/11/2017)

Além disso, veja-se julgamento recente:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PECULATO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 599/STJ.

Apesar de o bem subtraído ser avaliado em R$ 35,00, o delito foi praticado contra Administração Pública, em que houve o valoração negativa dos maus antecedentes e ainda o reconhecimento da reincidência, o que obsta o reconhecimento da atipicidade material, consoante a Súmula 599/STJ (“O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.”) 2. Agravo regimental improvido.

(AgRg no AREsp n. 2.067.513/SP, relator Ministro Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, julgado em 14/9/2022, DJe de 20/9/2022.)

    Já o Supremo Tribunal Federal reconhece a aplicação desse princípio, como causa de exclusão da tipicidade, havendo, contudo, necessidade de identificar no caso concreto os vetores que legitimam o reconhecimento do fato insignificante.

    E M E N T A: “HABEAS CORPUS” – O POSTULADO DA INSIGNIFICÂNCIA – RELAÇÕES DESSA CAUSA SUPRALEGAL DE EXCLUSÃO DA TIPICIDADE PENAL EM SUA DIMENSÃO MATERIAL COM OS PRINCÍPIOS DA FRAGMENTARIEDADE E DA INTERVENÇÃO MÍNIMA DO ESTADO EM MATÉRIA PENAL – NECESSIDADE DE CONCRETA IDENTIFICAÇÃO, EM CADA SITUAÇÃO OCORRENTE, DOS VETORES QUE LEGITIMAM O RECONHECIMENTO DO FATO INSIGNIFICANTE (HC 84.412/SP, REL. MIN. CELSO DE MELLO, v.g.) – DOUTRINA – PRECEDENTES – CRIME CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DO MEIO AMBIENTE (ART. 68 DA LEI N. 9.605/98) – INOCORRÊNCIA, NO CASO, DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL CONSOLIDADA QUANTO À MATÉRIA VERSADA NA IMPETRAÇÃO – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.

    (HC 150147 AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 12-04-2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-084 DIVULG 23-04-2019 PUBLIC 24-04-2019)

    EMENTA: AÇÃO PENAL. Delito de peculato-furto. Apropriação, por carcereiro, de farol de milha que guarnecia motocicleta apreendida. Coisa estimada em treze reais. Res furtiva de valor insignificante. Periculosidade não considerável do agente. Circunstâncias relevantes. Crime de bagatela. Caracterização. Dano à probidade da administração. Irrelevância no caso. Aplicação do princípio da insignificância. Atipicidade reconhecida. Absolvição decretada. HC concedido para esse fim. Voto vencido. Verificada a objetiva insignificância jurídica do ato tido por delituoso, à luz das suas circunstâncias, deve o réu, em recurso ou habeas corpus, ser absolvido por atipicidade do comportamento.


    (HC 112388, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Relator(a) p/ Acórdão: CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 21-08-2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-181 DIVULG 13-09-2012 PUBLIC 14-09-2012)

    Veja aqui um pouco mais sobre a (In)Aplicabilidade do Princípio da Insignificância aos Crimes Contra a Administração Pública.

    Manual de Direito Penal - Volume Único

    R$ 400,00
    R$ 345,00
     em estoque
    4 novos a partir de R$ 345,00
    Amazon.com.br
    atualizado em 11 de fevereiro de 2025 14:01

    Especificações

    • Livro

    Crimes Contra a Administração Pública - 3º Edição (2024)

    R$ 198,00
    R$ 185,00
     em estoque
    4 novos a partir de R$ 185,00
    frete grátis
    Amazon.com.br
    atualizado em 11 de fevereiro de 2025 14:01

    Referências:

    Image by Firmbee from Pixabay

    Continuar lendo

    Artigos

    O que é o poder de polícia?

    Redação Direito Diário

    Publicado

    em

    Poder de polícia

    Apesar do nome, o poder de polícia não está diretamente relacionado à atividade dos policiais. Em vez disso, trata-se de um conceito fundamental no direito administrativo, ligado à capacidade do Estado de limitar ou condicionar a liberdade e a propriedade privadas para proteger o interesse público.

    A administração pública tem como um de seus princípios basilares a supremacia do interesse público sobre o particular. Isso garante a observância da ordem das relações sociais, assegurando que a coletividade e o bem comum não sejam prejudicados pelo interesse individual.

    Nesse sentido, os poderes administrativos são os instrumentos pelos quais a Administração Pública exerce suas funções e atinge seus objetivos. Dentre esses poderes, destacam-se o poder hierárquico, o poder disciplinar, o poder regulamentar e, finalmente, o poder de polícia.

    Poderes Administrativos

    O poder hierárquico se refere à estrutura organizacional da Administração Pública, estabelecendo uma relação de subordinação entre os diversos níveis da hierarquia administrativa. Por meio dele, a autoridade superior pode dar ordens, fiscalizar, coordenar e corrigir as atividades dos subordinados, garantindo a eficácia e eficiência na prestação dos serviços públicos.

    Já o poder disciplinar permite à Administração Pública aplicar sanções aos servidores públicos que cometam infrações funcionais. O objetivo é manter a ordem, a disciplina e a ética no serviço público, assegurando que os servidores cumpram suas obrigações e ajam de acordo com os princípios da administração.

    Enquanto isso, o poder regulamentar poder autoriza a Administração Pública a elaborar normas complementares às leis, de modo a facilitar sua execução e garantir seu cumprimento. Através de decretos, portarias e instruções normativas, a Administração pode detalhar as disposições legais, adaptando-as às necessidades práticas da gestão pública.

    Por fim, o poder de polícia é a capacidade da Administração Pública de intervir na esfera privada para proteger o interesse público. Esse poder se manifesta através de atos administrativos que impõem restrições, condições ou proibições ao exercício de direitos individuais, visando à preservação da ordem pública, da saúde, da segurança, da moralidade, do meio ambiente e de outros valores coletivos.

    Veja aqui um pouco sobre os atos administrativos.

    O Poder de Polícia

    Esse poder consiste em uma ferramenta para frear ou reprimir abuso dos direitos individuais. Ele é aplicado, por exemplo, quando o indivíduo recebe uma multa de trânsito, tem sua atividade comercial interditada, sua obra paralisada. Tudo isso para que o bem estar, a saúde, os direitos e bens coletivos não sejam prejudicados. O seu fundamento está na Constituição Federal e nas normas de ordem pública.

    Pode ser preventivo, quando é usado de forma a evitar ações particulares que prejudiquem a coletividade, ou repressivo, se pune ações que já foram concretizadas. Também pode ser utilizado tanto na esfera administrativa quanto na judiciária. Na primeira esfera o objetivo é a manutenção da ordem pública geral, impedindo a violação de leis. Já na segunda esfera o objetivo concentra-se em reprimir a violação de leis, através de órgãos especializados como a polícia civil e militar.

    A administração pública pode pôr em prática as suas decisões sem precisar recorrer ao Poder Judiciário. É o que se chama de autoexecutoriedade. Todavia, a Lei impõe limites quando à competência, forma, fins e objeto, que devem ser respeitados. O poder de polícia só deve ser exercido para atender ao interesse público, respeitando o princípio da proporcionalidade. Isso significa que não se pode ir além do que é necessário para que o fim seja alcançado.

    O ato de polícia deve ser justo e necessário, sem se tornar arbitrário. É justo quando há uma proporção entre o dano coletivo a ser evitado e o direito individual. Se o indivíduo acredita que o ato foi arbitrário e desarrazoado, pode pleitear em juízo o reconhecimento disso com a consequente reparação necessária, seja moral ou material.

    Poder de Polícia na Jurisprudência

    O Superior Tribunal de Justiça publicou súmula sobre a fiscalização dos Conselhos Regionais de Farmácia que mostra o exercício do poder de polícia. Vejamos:

    Enunciado: Os Conselhos Regionais de Farmácia possuem atribuição para fiscalizar e autuar as farmácias e drogarias quanto ao cumprimento da exigência de manter profissional legalmente habilitado (farmacêutico) durante todo o período de funcionamento dos respectivos estabelecimentos. (SÚMULA 561, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/12/2015, DJe 15/12/2015)

    Podemos ver também o que diz o Supremo Tribunal Federal quando julga temas que envolvem o poder de polícia:

    Súmula 397

    Aprovação: 03/04/1964

    Ramo do Direito: Processual Penal

    Enunciado

    poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito.

    Veja ainda esse julgado, em que a Corte Suprema decidiu pela possibilidade de delegação do poder de polícia por meio de lei a entidades administrativas de direito privado. :

    EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 532. DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. PRELIMINARES DE VIOLAÇÃO DO DIREITO À PRESTAÇÃO JURISDICIONAL ADEQUADA E DE USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL AFASTADAS. PODER DE POLÍCIA. TEORIA DO CICLO DE POLÍCIA. DELEGAÇÃO A PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO INTEGRANTE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO DE ATUAÇÃO PRÓPRIA DO ESTADO. CAPITAL MAJORITARIAMENTE PÚBLICO. REGIME NÃO CONCORRENCIAL. CONSTITUCIONALIDADE. NECESSIDADE DE LEI FORMAL ESPECÍFICA PARA DELEGAÇÃO. CONTROLE DE ABUSOS E DESVIOS POR MEIO DO DEVIDO PROCESSO. CONTROLE JUDICIAL DO EXERCÍCIO IRREGULAR. INDELEGABILIDADE DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA.

    1. O Plenário deste Supremo Tribunal reconheceu repercussão geral ao thema decidendum, veiculado nos autos destes recursos extraordinários, referente à definição da compatibilidade constitucional da delegação do poder de polícia administrativa a pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública indireta prestadoras de serviço público.

    2. poder de polícia significa toda e qualquer ação restritiva do Estado em relação aos direitos individuais. Em sentido estrito, poder de polícia caracteriza uma atividade administrativa, que consubstancia verdadeira prerrogativa conferida aos agentes da Administração, consistente no poder de delimitar a liberdade e a propriedade.

    3. A teoria do ciclo de polícia demonstra que o poder de polícia se desenvolve em quatro fases, cada uma correspondendo a um modo de atuação estatal: (i) a ordem de polícia, (ii) o consentimento de polícia, (iii) a fiscalização de polícia e (iv) a sanção de polícia. […]

    13. Repercussão geral constitucional que assenta a seguinte tese objetiva: “É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.
    (RE 633782. Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 26/10/2020 Publicação: 25/11/2020)

    O poder de polícia, em suma, é necessário para manter a boa ordem da sociedade, além de preservar o interesse público, devendo cada questão ser tratada com a particularidade que lhe for condizente. Contudo, não pode o ato público invadir a esfera do direito particular, prejudicando o indivíduo sob o argumento da proteção da sociedade. A linha é tênue, vista apenas caso a caso, mas, se ultrapassada, gera reparação de danos.

    Ademais, se você quiser estudar mais sobre Direito Administrativo, recomendamos a leitura das seguintes obras:

    Direito Administrativo

    R$ 220,75  fora de estoque
    Amazon.com.br
    atualizado em 11 de fevereiro de 2025 15:32

    Direito Administrativo Descomplicado

    R$ 300,00  em estoque
    Amazon.com.br
    atualizado em 11 de fevereiro de 2025 15:32

    Especificações

    • Livro

    Referências Bibliográficas:
    BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988).
    Direito Administrativo Brasileiro. 40ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2013.
    Imagem: pixabay

    Continuar lendo

    Administrativo

    Diferenças entre Motivo e Motivação dos Atos Administrativos

    Redação Direito Diário

    Publicado

    em

    motivação dos atos administrativos

    Por serem palavras comuns na linguagem diária, assumindo, em alguns contextos, até mesmo significados idênticos, motivo e motivação, quando estudados na doutrina administrativista podem confundir algumas pessoas.

    Ocorre que a diferença é bem simples e aqui vão algumas dicas para não fazer confusão:

    Motivo é pressuposto, elemento, requisito do ato administrativo. Sua existência, portanto, é intrinsecamente ligada à existência da própria manifestação unilateral regida pelas normas do Direito Público que caracteriza o ato administrativo. Em dados momentos, o motivo é vinculado por lei e em outros ele é discricionário, assim como o objeto do ato. Assim, o motivo é o pressuposto de fato e de direito do ato administrativo.

    Já a motivação dos atos administrativos diz respeito à exteriorização ou não dos motivos do ato. Sua razão de ser está mais ligada ao elemento forma que ao elemento motivo, uma vez que a exteriorização, por escrito, dos motivos do ato condiz com a maneira com a qual ele se apresenta aos administrados e ao mundo jurídico: ou seja, com exposição de motivos ou não. É em por conta disso que a falta de motivação em atos para os quais ela é exigida configura vício de forma. A lei 9784, que versa sobre o Processo Administrativo na esfera federal elenca alguns dos atos para os quais é exigida a motivação. Veja-se:

    Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

    I – neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

    II – imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

    III – decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;

    IV – dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;

    V – decidam recursos administrativos;

    VI – decorram de reexame de ofício;

    VII – deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;

    VIII – importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.

    1oA motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.

    2oNa solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados.

    3oA motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito.

    Veja mais sobre Direito Administrativo aqui:

    Direito Administrativo

    R$ 220,75  fora de estoque
    Amazon.com.br
    atualizado em 11 de fevereiro de 2025 13:52

    Direito Administrativo Descomplicado

    R$ 300,00  em estoque
    Amazon.com.br
    atualizado em 11 de fevereiro de 2025 13:52

    Especificações

    • Livro

    Continuar lendo

    Trending

    Direito Diário © 2015-2024. Todos os direitos reservados.